(2007)

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a crítica

Certos filmes foram feitos para serem únicos, objectos de admiração incontornável pela sua capacidade de arrastar legiões de admiradores pela sua genialidade e grandiosidade e no entanto perdurando como obras únicas e omnipresentes às quais se soube habilmente estabelecer limites comerciais, preservando-se a sua integridade e genuinidade. Outros são claramente apostas de marketing, cuja máquina é feita a pensar no lucro, no franchise e no merchandise. Filmes que nos mostram o outro lado do cinema. O lado do negócio, do sucesso fácil e da exploração de esquemas adaptados à realidade actual e ao seu público.
Gore Verbinski pode bem ter criado um dos maiores blockbusters de que há memória, no entanto, inicialmente pensar-se-ia pouco provável o sucesso que esta saga iria ter. Quando o primeiro filme estreou poucos adivinhariam que se transformasse em trilogia e que se tornasse num dos filmes mais rentáveis da história do cinema. Com uma sequela apostada em explorar ao máximo todas as suas vertentes dramáticas e cómicas, e inserindo uma credível obscuridade, a fasquia tornou-se ainda mais elevada, garantindo desde logo o sucesso do terceiro filme por via de uma considerável expectativa.
Resultado à vista: lamenta-se o facto deste ser de longe o pior filme da série. Com um argumento que desfaz a genialidade conseguida no segundo episódio e diálogos que mais parecem monólogos cujo propósito visa preparar em duas horas de filme os últimos quarenta minutos, nos quais tudo o que é verdadeiramente interessante é mostrado. Mais o que é lamentável não é apenas o aborrecido trajecto até ao final apoteótico, mas também a quantidade de sequências que deixa em suspenso, sem nunca lhes proporcionar uma conclusão por razoável que seja, como no caso dos destinos dados a Davy Jones e Calipso, dois personagens que prometiam imenso no segundo capítulo. Por outro lado, a personagem Sao Feng (Chow Yun Fat) é apresentada como a grande atracção do último capítulo mas o seu final é precipitado de forma surpreendente e muito aquém das expectativas mais modestas.
Nem as habituais peripécias de descompressão do público funcionam apropriadamente, mostrando-se deslocadas e em últimas análise sem piada nenhuma. O zénite deste non sense é atingido na sequência da reunião dos piratas em que os diálogos são de tal forma insípidos e surrealistas que me atrevo a dizer que nem o Mr. Bean faria melhor. Nos finais quarenta minutos temos algumas sequências de fazer disparar a adrenalina, mas de facto não chega para duas horas de puro desperdício de tempo, num dos mais perdulários filmes de aventura de que há memória.”
Paulo Figueiredo, Cinema PTGate
(...) há histórias em excesso, para prejuízo directo das personagens principais (que não têm tanta margem para se desenvolverem) e até dos próprios efeitos especiais (que parecem funcionar como mera pirotecnia entre diálogos). O que sobra em duração (quase três horas de filme), falta em equilíbrio, mas nada disto afecta a função do entretenimento.”
Vítor Moura, Premiere