Zodiac (2007)

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a crítica

«Zodiac» parece estar condenado a sleeper do ano. A data de estreia coincide precisamente com a época dos blockbusters, altura em que os filmes de aventura, carregados de efeitos especiais comandam as preferências dos fãs de cinema, derivando os mesmos de objectos de verdadeiro culto como este admirável filme de David Fincher. Mas «Zodiac» não é uma vítima das circunstâncias, ele próprio é um filme de difícil assimilação. Porquê? Simplesmente porque David Fincher já nos habituou a filmes de valor intrínseco e que necessitam da total compenetração do espectador. Qualidade cada vez mais em desuso, em detrimento dos filmes de entretenimento fácil que convidam as pipocas e gargalhadas fáceis. Também o efeito surpresa, que «Se7en» e «Fightclub» proporcionaram, já se desvaneceu, sobrando um realizador que consegue aliar como poucos a capacidade de envolver na sua teia argumentativa ao ponto do quase desespero. Nisto, «Zodiac» é o mais eficaz filme de Fincher. A narrativa funciona bem ao passar para o público o pânico da existência de um serial killer perfeito que não deixa rastos. Consegue envolver-nos na trama e fazer-nos sentir como se estivéssemos realmente lá, com os protagonistas. É impossível não sentir um arrepio da espinha na sequência de Robert Graysmith (Gyllenhaal) na cave, quando este se apercebe que está mais alguém na casa. De sentir a frustração das evidências esfumadas em interesses políticos e na sociedade do efémero e do imediato. Alguém diz a certa altura: “entretanto aconteceram 200 crimes, já ninguém quer saber do Zodiac”, e é esta impotência que destrona o espectador perante a obstinação da personagem de Gyllenhaal e presenciamos o cruel passar do tempo que deixa impune os actos de um (?) indivíduo. Um filme carregado de actualidade e que pode ser equiparado ao omnipresente rapto de Madeleine: por quanto mais tempo irá esta criança perdurar na memória do público?”
Paulo Figueiredo, Cinema PTGate