a crítica
Erica Bain é uma pacata cidadã de Nova Iorque, apaixonada pela "cidade mais segura do mundo" e pelos sons característicos que esta transmite, o seu contemplativo programa de rádio é uma extensão da sua vida no subúrbio americano que se completa com a relação com David (Naveen Andrews), quase a chegar à fase matrimonial. Este mundo de extraordinárias mas quotidianas emoções é letalmente interrompido com a perda de David às mãos do outro lado do mundo de Erica Bain. O vazio deixado pela perda fá-la transformar-se e passar para o outro lado (ou para um mundo intermédio), encontrando satisfação e o preenchimento do vácuo com a morte de quem a faz recordar aquela fatídica noite.
Escolhendo a dedo as suas personagens, Jodie Foster regressa pela porta grande num filme acerca do lado obscuro que cada um de nós esconde e que espreita perante as mais dificeis provações.
Este é um filme acerca do bem e do mal personificados em pessoas comuns, mas também acerca de valores éticos e até onde podem estes ser levados. Neil Jordan realiza sobriamente esta obra, apostando mais no desempenho dos actores do que numa história demasiado profunda. Não está, no entanto, ausente de responsabilidade em alguns planos memoráveis, como por exemplo, na sequência em que Erica Bain chega pela primeira vez à esquadra policial e perante a passividade/indiferença robótica do agente-recepcionista, vislumbra-se ao fundo uma parede repleta de louvores de cidadãos a essa mesma esquadra. Roderick e Bruce Taylor dividem as despesas do argumento que justifica a vingança como meio terapêutico e que parece querer discutir a capacidade das leis institucionais e das forças policiais em resolver estes casos que deixam marcas profundas nas vítimas. Mas acima de tudo, «A Estranha em Mim» faz uma confrontação entre dois mundos tão próximos, quer ao nível físico como mental, fazendo derivar a sua protagonista algures no meio, sem tomar uma posição veemente. Esta decisão é deixada para o espectador. Mas apesar das intenções, falta alguma espessura à história, que parece procurar sempre uma simplicidade que nem sempre assenta bem. Um bom filme que fica aquém das suas potencialidades.”
Paulo Figueiredo,
Cinema PTGate
Se existe uma nova paranóia securitária em Nova Iorque, talvez isso explique o sucesso de um filme tão vulgar como A ESTRANHA EM MIM (...) a actriz dá à personagem uma energia e sensibilidade raras neste tipo de filmes.”
Manuel Cintra Ferreira,
Expresso