Promessas Perigosas (2007)

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a crítica

Com uma regularidade assinalável, David Cronenberg parece cada vez mais apostado em histórias do quotidiano. Foi assim com «Spider» e com «Uma História de Violência» e é assim com «Promessas Perigosas». Desta vez, conta-se uma história no submundo da máfia russa em Londres e do tráfico humano que esta explora: Anna Khitrova (Naomi Watts) é uma parteira que assiste à morte de uma jovem grávida que trazia consigo apenas um pequeno diário. Utilizando esse diário e um cartão encontrado no seu interior que a conduz a um restaurante tradicional russo, Anna irá tentar descobrir o paradeiro da família da jovem. Porém, vê-se subitamente envolvida numa rede de criminalidade em que todos usam máscaras para esconder a verdadeira identidade.
Há, em «Promessas Perigosas», uma linha ténue que separa a violência urbana tão bem retratada nos momentos mais intensos, das personagens de Viggo Mortensen e Vincent Cassel que roçam o género humorístico quase burlesco. Mas levando a sério a obra de Cronenberg, encontramos um drama humano cuja invulgar densidade chega a ser palpável. E vale de facto a pena ver um filme destes, em que a acção é inteiramente feita pelos actores e não por efeitos especiais, como a sequência da luta na sauna que é tão explicitamente brutal, como recheada de humor negro. Cronenberg parece querer mostrar pessoas vulgares em situações extremas. As relações entre elas, a fragilidade dos laços familiares e as máscaras que todos nós usamos no dia-a-dia.
O que retira de certa forma impacto a «Promessas Perigosas» é o sentimento a dejá-vú que as similaridades com «Uma História de Violência» nos trazem. Recorrer aos mesmos actores foi provavelmente o fiasco deste filme, mas é no entanto curioso verificar que todo o sumo desta experiência alucinante advém precisamente das interpretações fantásticas de Viggo Mortensen e Naomi Watts.”
Paulo Figueiredo, Cinema PTGate
(...) uma variação menor sobre a visão do Mundo que se mantém inalterada. De facto, aderindo embora às convenções de um género (as do «thriller» policial), o filme não deixa de reencenar aquela obsessão pelo subcutâneo que desde o início persegue o cinema do realizador.”
Vasco Baptista Marques, Expresso