Gran Torino (2008)

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a crítica

Em «Gran Torino», Clint Eastwood parece querer fazer as pazes com o seu passado, renegando as figuras justiceiras que interpretou e que através do poder de fogo mantinham uma paz podre, que o próprio Eastwood fazia questão de salientar em títulos como «Poder Absoluto» e «Mystic River». Num cenário actualíssimo em que proliferam os gangs, Eastwood identifica estes grupos desviantes como uma ameaça incontornável numa sociedade americana, onde a imigração atingiu níveis preocupantes. Isto não seria um problema para Dirty Harry, que empunhando a sua famosa Magnum 33, iria ao encalço dos bandidos exterminando-os um por um. Aliás, começa por ser precisamente assim que Walt Kowalski (Eastwood) resolve os seus problemas com as comunidades estrangeiras que vivem em seu redor, problema esse que não passa de uma questão territorial, exaltada várias vezes em frases como "saiam da minha propriedade" ou na luta pela posse do carro gran torino. Com o desenrolar da acção, Eastwood demonstra que a solução para estes problemas reside em transformar os "intrusos" membros produtivos para a sociedade, como que dizendo: "enquanto arranjam um telhado, não estão a assaltar a loja da esquina". Essa postura crítica para com a juventude de hoje fica bem expressa na deixa "what is wrong with the today's youth?", que tem tanto de lugar-comum como de verdadeiro. No final, Eastwood expurga os seus demónios, dando o corpo ao manifesto, sem deixar de fazer as pazes com as suas crenças espirituais, atacadas de forma veemente durante boa parte do filme e no passado em «Million Dollar Baby» e a espaços em «Mystic River». O filme ressente-se apenas de um certo estrangulamento espacial da acção, centrada quase sempre no quintal da casa de Walt, reforçando a questão da territorialidade que Eastwood parece querer criticar, sugerindo no último plano como que uma libertação para o exterior por parte de Thao (Bee Vang). Na actualidade existem muito poucos autores com boas mensagens e Eastwood pertence a uma minoria que ainda tem algo pertinente para dizer. Haja quem o oiça e veja, porque de facto merece.”
Paulo Figueiredo, Cinema PTGate
É uma obra vintage e, de igual modo, crepuscular de Clint Eastwood, que como actor prometeu a sua retirada. Se assim for, GRAN TORINO é um monumental cair do pano.”
Jorge Pinto, Premiere