Watchmen - os Guardiões (2009)

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a crítica

Com tantas guerras entre produtoras a arrastarem a estreia deste «The Watchmen» de Zack Snyder, a expectativa em redor do filme era imensa e é com agrado que posso afirmar que este é uma enorme surpresa em vários quadrantes. Desde logo pela resistência que Zack Snyder faz à possibilidade de explorar um universo ultra-cativante de forma superficial e repleto de violência gratuita, onde a maior parte das adaptações de BD invariavelmente cai. Se tivermos, porém, em conta que este é o realizador que adaptou a série «300» de Frank Miller com tão bons resultados, a surpresa aqui é de certo modo atenuada.
Depois por que estamos perante uma obra que explora o outro lado das histórias de super-heróis, com o início a surgir depois da aprovação de uma lei que proíbe a existência de justiceiros mascarados. Relegados para uma reforma forçada, os heróis são aqui retractados como veteranos de guerra, cheios de traumas e más memórias e uma notória incapacidade de ajuste às normas sociais, que os leva a agir de forma irracional. É aqui que reside a chave de «The Watchmen»: se perante um cenário em que os vigilantes mascarados olham pela sociedade, quem vigia então os próprios heróis? É neste dispositivo panóptico que o filme se desenrola, tendo como pano de fundo uma eminente guerra nuclear entre os Estados Unidos da era Nixon e a URSS. O ponto de partida é óptimo, mas a questão que se coloca é que se de facto esta postura intelectual é bem veiculada no filme e se Snyder é bem sucedido nas suas escolhas.

Penso que é injusto dizer que «The Watchmen» é um filme de super-heróis. É primeiro um policial e uma fita de espionagem, onde os super-heróis são a ponte para explorar uma série de outros temas como a moralidade e o conceito de justiça. Tópicos que as personagens Comediante, Rorschach e Dr. Manhattan questionam, embora para mal da película, nunca cheguem verdadeiramente a uma doxa, quanto mais a uma episteme. Snyder acaba por dar mais importância à componente estética (bem conseguida, diga-se) do filme e parece deixar para segundo plano aquilo que realmente importava: os diálogos, que se ressentem de um assustador desequilíbrio narrativo e o desenvolver das personagens, que se resumem a uma série de flashbacks pontuais.
Se o filme tenta veicular algum conteúdo filosófico e político, fá-lo de forma impositora, por requisitos do próprio argumento que no final de contas apenas consagra falsas moralidades, tão plásticas, como os efeitos especiais omnipresentes no filme.”
Paulo Figueiredo, Cinema PTGate
(...) um dos melhores produtos deste novo género que podemos baptizar de 'cinemics'. Para fãs da 'novela gráfica' e não só.”
Manuel Cintra Ferreira, Expresso