(2011)

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a crítica

A vulgarização do fenómeno de adaptações de BD tem sido um dos principais motivos de desgaste no que toca ao delicado balanço entre oferta e procura de filmes nos cinemas. Se por um lado a ideia de que este género de filmes alimenta a faceta naïve e descomprometida do público, não é menos verdade, que é pequena a quantidade de espetadores que saem destes filmes verdadeiramente satisfeitos, objectivo primordial de quem paga um bilhete, cada vez mais inflacionado, para ver um filme, seja ele de que natureza fôr. Mas outra consequência (mais grave até) surge desta avalanche de filmes-BD, nomeadamente a incapacidade que estes começam a ter em se tornar naquilo para o qual inicialmente (até os mais fraquinhos como «O Quarteto-Fantástico», «Demolidor» e «Hulk») foram realizados: a inata proeza de serem filmes-acontecimento. O que não tinham em qualidade, era compensado por mega eventos de publicidade que lhes davam uma atmosfera especial, aspeto em que as recentes adaptações de BD começam a denotar grandes dificuldades, por causa do overflow de filmes semelhantes. «Capitão América» surge precisamente no meio desta tremenda ação de marketing que será «The Avengers» e mais parece uma desculpa, do que um filme em si mesmo. O pretensiosismo de acrescentar o "the first avenger" ao título, contra a veracidade da história da Marvel (Os Vingadores já existiam antes do Capitão América), parece tentar fazer deste filme, uma espécie de prólogo obrigatório. Se todos os males fossem isto, o Capitão América teria bastante por onde vingar. No entanto, não passa de uma banalidade de ação, com falta enorme de profundidade dos seus personagens (Stanley Tucci, na sua curta aparição, vale por todos os outros juntos), muito tiroteio e uma sequência final lamechas, tão prevísivel quanto as cores do uniforme do Capitão. É uma pena vermos um personagem lendário como o Capitão América ser tratado desta forma, ele que é tido como uma das grandes bandeiras norte-americanas, ostentando ideais que transcendem a natureza da própria BD. A verdade é que este Capitão América tem muito mais a ver com descartabilidade da indústria fast-food do que com a noção de Liberdade da qual aos EUA historicamente tanto se vangloriam.”
Paulo Figueiredo, Cinema PTGate